
Crédito: Pixabay
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*Patrícia Paixão
Em tempos de culto à estética e à vida saudável, ninguém quer ter a famosa “barriguinha”. E em tempos de Google e de várias ferramentas à disposição na Internet para checagem do fato, nenhum jornalista quer ter uma “barriga” estampando seu currículo, pois sabe que sua credibilidade vai para o ralo, e ele ficará sendo visto como um profissional irresponsável e preguiçoso.
Mas como assim no currículo, Patrícia?
É que a barriga no jornalismo tem outro significado. Trata-se da publicação de um fato falso, por falta de checagem, sem a intenção de enganar o leitor.
Qualquer um, seja por pressa em dar o famoso “furo de reportagem” (publicar uma notícia em primeira mão, antes da concorrência), por preguiça ou arrogância de achar que é bom o suficiente para precisar apurar, pode dar uma “barrigada”. Mesmo jornalistas renomados podem cometer essa gafe.
Basta lembrar da entrevista que Mário Sérgio Conti, que dirigiu a Veja e é colunista de O Globo e da Folha de S.Paulo, fez com o falso Felipão, na Copa do Mundo de 2014. Ele publicou a entrevista na Folha, convicto de que tinha entrevistado o então técnico da Seleção brasileira, quando, na verdade, ouviu Wladimir de Castro Palomo, que trabalha como sósia de Luiz Felipe Scolari. Nem desconfiou o quão absurdo seria Felipão estar em um voo comercial em plena Copa do Mundo.
Outra barriga famosa foi a falsa morte do senador Romeu Tuma, pela Folha e pelo UOL, em setembro de 2010, mais de um mês antes do parlamentar falecer efetivamente (o que só ocorreu em 26/10/2010). Na ânsia de dar o furo, os veículos do Grupo Folha mataram o senador, levando outros veículos da imprensa, como o jornal O Globo (via twitter), a replicarem a barriga.
Mas a mais célebre barriga da história do jornalismo foi dada na edição de 27 de abril de 1983 da revista Veja. O semanário do grupo Abril repercutiu uma matéria falsa publicada pela revista New Scientist sobre um suposto avanço da engenharia genética: a fusão de células animais e vegetais. O experimento teria gerado um “super tomate”, feito com a contribuição de células de gado, e que possuía uma polpa muito mais nutritiva, oferecendo vários benefícios à população.
New Scientist havia inventado essa notícia como parte uma brincadeira que costuma ser feita pela imprensa estrangeira, especialmente a britânica, no dia 31 de março, na véspera de 1º de abril. Nesta data, vários veículos costumam pregar peças em seus leitores, publicando fatos falsos.
Mesmo com várias pistas que indicavam que a notícia era um trote (exemplo: os supostos pesquisadores que tinha descoberto a fusão celular se chamavam Barry McDonald e William Wimpey, uma referência às redes de fast-food americanas McDonalds e Wimpy’s), Veja caiu na história, nomeando o novo avanço científico como “boimate” (união das palavras “boi” e “tomate”), nome pelo qual acabou ficando conhecida essa homérica barriga.
A revista chegou a fazer um infográfico mostrando aos leitores como o “super tomate” seria criado. #VergonhaAlheiaNívelUmMilhão
Em 1983, os jornalistas da Veja não contavam com o nosso amigo “Google” para verificar se a notícia era verdadeira ou não, embora isso não justifica o erro cometido, só o ameniza. Hoje, temos ainda mais obrigação de checar, checar, checar o máximo possível para não dar uma barrigada.
Portanto, querido seguidor do Formando Focas, mantenha sempre o “desconfiômetro” ligado e nunca tenha preguiça de apurar uma informação. O erro de Mário Sérgio Conti foi perdoado pela Folha e pelo O Globo, mas por que ele é Mário Sérgio Conti. Dificilmente teriam a mesma compreensão com um foca.
Caso dê uma barrigada, a melhor coisa é assumir o erro e pedir desculpas ao público. Nada de querer justificar o injustificável.
A todos que desejam saber mais como a nossa imprensa tem pecado no quesito checagem, mesmo com todo o arsenal de pesquisa que temos hoje à disposição, recomendo o documentário “Abraço Corporativo”, do jornalista Ricardo Kauffman. Lançado em 2010, o filme mostra como conceituados veículos jornalísticos e famosos profissionais da nossa mídia, como Heródoto Barbeiro e Gilberto Dimenstein, caíram na história de um personagem inventado, Ary Itnem (esse nome, quando lido ao contrário, forma a palavra “mentiyra”) , interpretado pelo ator Leonardo Camillo. Itnem seria um consultor de RH que implantou no Brasil a “teoria do abraço” (que se baseia no conceito de que abraçar as pessoas melhora os relacionamentos, inclusive no meio empresarial). Ele foi inventado para mostrar como nossa imprensa tem divulgado tudo o que lhe é oferecido, sem se preocupar com a checagem. Vale muito a pena! Assista ao filme no link abaixo:
*Patrícia Paixão
A gente cansa de falar em sala de aula, mas poucos dão a devida atenção. O TEXTO PRECISA SER ENCABEÇADO POR UM TÍTULO. E TEM QUE SER UM BOM TÍTULO!
Se o texto for um pouco mais aprofundado (e, por isso, mais longo), como uma reportagem ou uma pingue-pongue (entrevista no formato pergunta-resposta), além do título é importante que tenha um bom subtítulo, intertítulos interessantes e pelo menos um olho.
Cada vez mais é preciso investir em artimanhas para fazer o leitor ter vontade de ler o texto. Vivemos um período em que boa parte dos leitores se atém ao título. Poucos chegam ao lide e raros leem o texto inteiro.
Por isso, é muito importante que cada detalhe da sua matéria seja estrategicamente pensado, para funcionar como uma “isca” que fisgará o leitor, fazendo-o ficar com uma vontade incontrolável de ler seu texto.
Os detalhes a que me refiro são os elementos gráficos, que constam do projeto gráfico de toda publicação que se preze. Digo que “se preze”, pois vemos muitas publicações supostamente jornalísticas no mercado, que não têm o mínimo de planejamento e padronização.
O projeto gráfico refere-se a todo planejamento estético de uma publicação. Tudo o que está relacionado ao seu layout e à maneira como sua diagramação é pensada e concretizada.
É importante saber trabalhar bem os elementos gráficos, respeitando as características de cada um deles. Não adianta você fazer uma grande reportagem, com mais de dez fontes ouvidas e muita pesquisa, inclusive de campo, se o seu texto tiver um título pouco expressivo e não contar com outros chamarizes para motivar a leitura e deixá-la mais leve. Todo seu trabalho de apuração e pesquisa irá para o ralo, pois o leitor não enfrentará sequer uma linha do seu texto.
Vamos conhecer regrinhas básicas de alguns elementos gráficos importantes:
*TÍTULO
O título deve resumir, de forma atrativa, a notícia, em especial no jornalismo hard news (veículos que cobrem os acontecimentos do dia, o factual). Quando dou exercício de notícia e reportagem em sala de aula costumo pegar alguns “caixas d´água” (alcunha carinhosa que dou aos aluninhos sem noção) fazendo títulos genéricos como “Bomba na política” ou “Polêmica no Congresso”. A argumentação dos “Brasilitis 1000 L” é que fizeram o título dessa forma para aguçar a curiosidade do leitor. Mas a verdade é que esses não são bons títulos, pois não trazem informação nenhuma, são muito genéricos, além do que destoam totalmente do perfil de leitor do hard news, que é um cara que quer prontamente a informação, que não tem tempo a perder.
O bom título no hard news é aquele que informa o leitor, de modo que ele já saiba o que é a notícia, sem precisar ir ao texto. Aliás, se costuma dizer que, na “notícia” (gênero jornalístico totalmente pautado no factual), o título deve ser tirado do lide.
Algumas regrinhas para produção do título no hard news:
– Deve ser curto (média de seis palavras), sintetizando o aspecto principal da notícia.
– Não começa com artigo definido ou indefinido;
– Não tem ponto final e evita ponto de exclamação ou interrogação, reticências, travessão ou parênteses;
– Deve ter verbo e este aparece no presente e na voz ativa para passar atualidade, para dar aquele ar de notícia fresquinha (com exceção de um fato que ocorreu num passado distante ou que ocorrerá num futuro distante);
– Embora seja muitas vezes tirado do lide, deve evitar a repetição das mesmas palavras do lide;
– O corpo da fonte do título deve ter destaque em relação aos demais elementos editoriais do texto.
Exemplo de título errado: Banco Mundial discute problemas educacionais
Exemplo de título certo: Banco Mundial propõe ensino pago
Perceba que no segundo título o jornalista foi direto ao ponto, resumindo a notícia.
Veja abaixo esses dois títulos da versão online da Folha de S.Paulo de 22/10/2015, para perceber as regras acima aplicadas neles:
Percebeu como só lendo esses títulos você já ficou informado sobre o que é a notícia? Pois bem, a ideia é essa!
Já no jornalismo soft news, que trabalha com deadlines mais tranquilos e não se pauta no factual (como as revistas), a produção do título deve ser mais solta e criativa, pode-se deixar a informação principal para ser subentendida, pois se está lidando com um público que tem mais paciência, tempo e disposição para a leitura. Portanto, as regrinhas acima mencionadas não são seguidas no soft news, com exceção da máxima NÃO TEM PONTO FINAL. Aliás, repita comigo 10 vezes, por favor: NÃO TEM PONTO FINAL! NÃO TEM PONTO FINAL!NÃO TEM PONTO FINAL!NÃO TEM PONTO FINAL!NÃO TEM PONTO FINAL!NÃO TEM PONTO FINAL!NÃO TEM PONTO FINAL!NÃO TEM PONTO FINAL!NÃO TEM PONTO FINAL!NÃO TEM PONTO FINAL! Não sei por que estudante de jornalismo tem mania de colocar ponto final em título!! Aff…
Vale destacar que nos gêneros opinativos do hard news (artigo, editorial, crônica, resenha, entre outros) o título também é feito de maneira mais “solta” e criativa”, e sem respeitar as regrinhas acima mencionadas. Ou seja, as regrinhas valem para os textos do gênero informativo.
Exemplo de um título em uma reportagem da revista Piauí:
Veja que o título começa pelo artigo “o” e não tem verbo, coisas impensáveis num título de um texto do jornalismo hard news. Perceba também que ficou para o subtítulo a tarefa de explicar melhor o título. E falando em subtítulo, vamos às regrinhas para a construção dele:
*SUBTÍTULO OU LINHA-FINA
É uma frase colocada abaixo do título, que normalmente complementa uma informação que o título, por ser curto, não deu conta.
Regrinhas:
– Não deve trazer informação mais forte que o título;
-Sua função é esclarecer ou complementar o título ou, ainda, chamar a atenção do leitor para um outro aspecto importante da notícia que não foi abordado no título;
– As regras para sua redação são as mesmas do título com exceção do tamanho da frase, que pode ser maior, mais detalhada;
-Não deve repetir a mesma informação do título;
– O corpo da fonte é menor que o do título e maior que o do texto.
OBS: Existe ainda o sobretítulo ou antetítulo, que tem a mesma função que o subtítulo. A única diferença é que o subtítulo aparece abaixo do título e o sobretítulo acima. Obviamente, se a função é a mesma, não se deve usar num mesmo tempo subtítulo e sobretítulo.
Na matéria a seguir, o subtítulo tem papel “complementar”, oferecendo detalhes sobre a informação trabalhada no título:
*INTERTÍTULO
É uma palavra, expressão ou composição de poucas palavras que aparece entre dois parágrafos do texto (em especial em textos longos). Tem a função de sinalizar ao leitor que a matéria mudará levemente o rumo do assunto que está sendo abordado. Serve para organizar e arejar a leitura, além de ser mais uma das “iscas” para fisgar o leitor, para que ele tenha vontade de prosseguir no texto.
Regrinhas:
-Deve ser formado por no máximo três palavras (não pode ser longo);
– A palavra (ou palavras) utilizada deve expressar um sentido coerente em relação à parte do texto em que foi inserida;
-O corpo da fonte normalmente é maior que o do texto e se costuma colocá-lo em bold.
Exemplo (“PLANO B” é o intertítulo):
*OLHO
O olho é uma parte interessante da matéria (pode ser um trecho do texto do jornalista ou uma frase de um dos entrevistados), que é destacada na diagramação, também com o sentido de levar o leitor para o texto.
Vamos supor que você esteja entrevistando uma celebridade famosa, muito respeitada no cenário artístico e, lá pelas tantas da entrevista, essa celebridade faz uma revelação que já tentou matar alguém. Essa é uma declaração bombástica que, se transformada no olho, com certeza vai deixar o leitor com uma vontade incontrolável de procurar o trecho do texto onde a tal celebridade fez a confissão, para saber mais detalhes. É muito importante, depois de terminado o texto, selecionar bons olhos para serem destacados na diagramação.
Exemplo de olho:
O subtítulo e o olho devem constar do corpo do texto, caso contrário, perde-se o sentido desses elementos gráficos, já que a função deles é exatamente levar o leitor para o texto, para obter mais detalhes sobre aquela informação.
Bem, espero ter ajudado! Em futuras postagens devo falar sobre outros elementos gráficos importantes. Continue acompanhando o Formando Focas 🙂
*Patrícia Paixão
Existem várias regrinhas que caracterizam a linguagem do texto jornalístico. Uma dessas regras, que deve ser respeitada pelos queridos focas e todos que atuam na área, diz respeito ao esforço que devemos ter para evitarmos a repetição de termos no texto, especialmente quando eles aparecem muito próximos.
Para isso, é importante empregarmos o mecanismo da coesão textual, que diz respeito à relação entre as partes do texto (sejam elas palavras, expressões ou frases). Essa relação, quando bem feita, permite um concatenamento lógico, facilitando o entendimento do leitor e evitando que o texto fique chato, repetitivo.
Um texto não pode ser um saco de palavras jogadas de forma desconexa ou enfadonha. Os termos que o compõe precisam estar bem alinhavados um com o outro, como que costurados mesmo. E muitas vezes é preciso usar palavras com um sentido próximo, relacionando-as a outras que já apareceram no texto.
Neste trecho de um texto jornalístico (abaixo) podemos observar como devemos empregar o mecanismo da coesão:
[…] Pedro Fernandes, 43 anos, tem dois filhos com transtorno de hiperatividade. Os meninos começaram a fazer aulas de judô. O empresário resolveu apostar nesta atividade para controlar o problema das crianças. Fernandes acredita que participar das aulas tem tornado os garotos menos agitados. […]
Percebemos que algumas partes do texto fazem referência a outras anteriormente citadas, ajudando o leitor a compreender as ideias expostas. Os termos “empresário” e “Fernandes” fazem referência a Pedro Fernandes. As palavras meninos, crianças e garotos estão relacionadas ao termo filhos, anteriormente colocado. O redator não ficou repetindo 500 milhões de vezes no texto, como um psicopata, os termos Pedro Fernandes e filhos
Vamos supor que vocês tivessem feito uma entrevista comigo (jornalista e professora Patrícia Paixão, editora do Formando Focas). Reparem como poderiam empregar a coesão no texto da reportagem:
[…] Patrícia Paixão afirma que a coesão é essencial para facilitar o entendimento do texto e não torná-lo cansativo ao leitor. Segundo a docente, para empregar a coesão é possível usar termos com sentido parecido, relacionando-os a outros que já apareceram no texto. A jornalista ainda diz quanto mais coeso melhor o texto se torna. Para Patrícia, é preciso que o jornalista tenha atenção com uso desse mecanismo. […]
Não sei se vocês notaram mas, analisando o primeiro e o segundo exemplo, vemos que na segunda vez que o entrevistado foi citado apareceu o seu sobrenome. Já no segundo exemplo (em que eu fui a entrevistada), foi usado o meu primeiro nome (Patrícia) para fazer a coesão. Por que isso aconteceu?
Existe uma regrinha que diz que, se a fonte for homem, devemos usar o sobrenome na segunda e em outras vezes em que iremos citá-lo. No caso de a fonte ser do sexo feminino, devemos usar o primeiro nome.
Já vi diversas explicações a respeito disso, mas nenhuma me convenceu 100%. Tanto que quando meus alunos perguntam: “Professora, qual é a explicação pra isso”. Costumo responder, brincando: “Porque Deus quis!” (risos).
Uma vez eu li em um artigo que essa regra existe por conta do antigo Código Civil brasileiro, em que o mando do sobrenome era do homem e não da mulher. Mas não sei se isso procede.
O fato é que a regrinha existe e precisa ser seguida. Mas, como toda regra, há as malditas exceções.
Se homem tiver sobrenome “Filho”, “Júnior” ou “Neto”, quando formos mencioná-lo pela segunda vez devemos incluir o sobrenome anterior. Exemplo (no caso de um entrevistado que se chama Maurício Pereira Júnior):
[…] Para Pereira Júnior, é preciso que o Brasil deixe de ser pouco ambicioso em algumas questões. […]
Se o sobrenome for Silva (que é muito comum), devemos optar pelo sobrenome anterior ou até mesmo pelo primeiro nome.
E quando a fonte é uma pessoa renomada, que é conhecida mais pelo primeiro nome, como o cantor Caetano Veloso? Neste caso, cabe a repetição do Caetano, além de termos que podem ser usados para fazer referência a ele, como músico, compositor, artista, enfim.
Também há exceção no caso de a fonte ser uma personalidade do sexo feminino. Por exemplo, a chanceler alemã Angela Merkel. Quando formos citá-la pela segunda vez, devemos usar Merkel e não Angela.
Bem, espero ter ajudado. Bora começar a empregar direitinho o mecanismo da coesão textual. O bom profissional da área também é aquele que respeita a linguagem jornalística.
*Patrícia Paixão
Não sei se todos sabem, mas o Formando Focas é feito por mim, Patrícia Paixão, jornalista e professora do curso de Jornalismo. A proposta do blog é ser uma sala de aula virtual para oferecer dicas, conselhos, reportagens e entrevistas interessantes aos queridos focas de todo o país. Depois de muitos anos trabalhando na área jornalística e como professora, decidi que chegou a hora de dividir minha experiência com outros estudantes, além dos meus, e, por isso, criei este espaço.
Comecei atuando na área ainda como estagiária, em 1997, no segundo ano do curso de Jornalismo. Fui locutora da rádio Metodista (eu estudava na UMESP – Universidade Metodista de São Paulo), depois redatora de uma emissora da Rede Record e finalizei a graduação como repórter do jornal International Press, voltado a brasileiros que vivem no Japão.
Meu primeiro emprego como jornalista, assim que me formei, foi como repórter e colunista do portal IG, em 2000, bem na época de ouro da Internet, antes da fatídica bolha. Emprego dos sonhos, onde pude conviver com mestres da nossa Comunicação como Nizan Guanaes e Matinas Suzuki, e com Alexsandar Mandic, um dos pais da nossa Internet.
Depois trabalhei como redatora e repórter no Grupo Folha (Agência Folha e Folha Online), uma das minhas experiências mais importantes. Tive a oportunidade de cobrir acontecimentos e eventos emblemáticos, como os atentados de 11 de setembro de 2001 (um dos dias em que mais trabalhei na vida!), a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, e todo período das eleições presidenciais de 2002 (cobri diariamente o pleito, desde a fase da pré-campanha).
Fui editora de duas revistas segmentadas: a ANAVE (focada no mercado de papel e celulose) e a Professional Publish (voltada à indústria gráfica), experiência igualmente rica, que me permitiu comandar uma equipe formada por repórteres, designers e fotógrafo, e experimentar um texto mais solto e aprofundado, longe das amarras do jornalismo diário.
Também atuei do outro lado do balcão. Fui assessora de imprensa e gerente de comunicação de diversas organizações, dentre elas o Sindifisco Nacional/Delegacia Sindical de São Paulo (Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil), para o qual faço consultoria de comunicação e marketing até hoje.
Em 2005, resolvi fazer mestrado em comunicação pela UMESP (Universidade Metodista de São Paulo), já pensando em lecionar. No início o desejo de dar aulas era para ter uma vida um pouco mais tranquila, com duas férias por ano e finais de semana e feriado (já que na redação ter todos os finais de semana e feriados livres é impossível).
Antes mesmo de ter sido aprovada na dissertação de Mestrado, comecei a dar aulas na Universidade Bandeirante de São Paulo, a antiga UNIBAN Brasil (atual Anhanguera Educacional), e aí foi paixão instantânea. Me encantei por essa vida de doar e ganhar conhecimento sobre a profissão que eu amo, interagindo com pessoas de diferentes lugares e modos de pensar, fazendo verdadeiros amigos.
Passei pela FIAM/FMU e, desde 2011, estou na FAPSP (Faculdade do Povo, especializada em curso de comunicação). Além de professora, sou coordenadora do curso de Jornalismo da instituição.
Hoje posso dizer que amo muito a docência, tanto quando o jornalismo. Meus alunos são meus melhores amigos e são eles que me fazem viver intensa e apaixonadamente, todos os dias, o jornalismo.
Na última terça-feira (15/09), esses quase dez anos de docência foram coroados com um prêmio que ainda está me deixando nas nuvens. Fui uma das professores homenageadas no projeto “Professor IMPRENSA”, promovido pela Revista IMPRENSA, que apontou quem são os docentes de comunicação mais queridos do país (veja a matéria “Conheça os professores mais inspiradores do Brasil na área se comunicação”). Fui uma das mais votadas na região Sudeste. A votação foi feita por alunos e ex-alunos dos professores. Na página da homenagem é possível ler os depoimentos de alguns dos estudantes que participaram da escolha.
Esse texto é para agradecer profundamente a todos que me proporcionaram essa linda e inesquecível homenagem. E para dizer que, nesses nove anos como professora, aprendi muito mais do que ensinei e me tornei uma pessoa melhor.
Obrigada, queridos alunos, por tudo o que vocês me ensinaram. Agradeço também ao amigo Eduardo Razuk, que me deu a primeira oportunidade na docência.
E aos que me acompanham por aqui: obrigada por prestigiarem nosso humilde trabalho, que é feito com muito tesão por esta que, tal como disse o mestre Gabriel García Márquez, é “a melhor profissão do mundo!”
Rumo a mais dez anos lecionando! E depois mais dez, mais dez … até quando o corpo e a mente resistirem.
#muitofeliz
Abaixo, seguem alguns momentos especiais vividos com meus alunos desde que comecei a lecionar:
*Patrícia Paixão
Dentre as várias categorias de estudantes de jornalismo, uma das mais bizarras é a dos que não gostam de fazer entrevista.
Não, você não leu errado. Eles querem ser repórteres, mas não gostam de entrevistar. Poderiam ter escolhido medicina, arquitetura, administração, direito, agronomia, mas escolheram jornalismo e reclamam quando são pautados para ir pra rua.
Há alguns anos tenho me deparado em sala de aula com esta figurinha e confesso que continuo com a mesma estupefação.
Quando cobrados nos exercícios de reportagem, saem logo com uma dessas:“tem mesmo que entrevistar, professora? Eu tenho um material ótimo que dá conta do assunto.”
Outra saída típica é: “a amiga da minha mãe vive exatamente essa situação da pauta, professora. Posso ouvi-la?”. Ou: “tem um médico no posto de saúde lá da minha rua que é excelente pra essa matéria”. Isso sem contar os casos de aspas inventadas… (abafa!)
A resposta é sempre taxativa: SIM, VAI TER MESMO QUE ENTREVISTAR! E PRESENCIALMENTE!
E NÃO! SEU PAI, A AMIGA DA SUA MÃE, O MÉDICO DA SUA RUA, O OBREIRO DA SUA IGREJA E O SEU VIZINHO NÃO SÃO FONTES! CHEGA DE “FONTE-AMIGA”, essa praga das salas de aula de jornalismo. Aff!
A entrevista é uma das etapas essenciais do processo de apuração, ao lado da pesquisa. É a matéria-prima do Jornalismo. É ouvindo os diferentes lados de uma história que conseguimos retratá-la com fidelidade. Na maioria das vezes o conhecimento que nós, jornalistas, temos do fato não vem de nós mesmos, mas das fontes.Se você está escrevendo um texto sem entrevista, sorry, mas você está fazendo qualquer coisa menos reportagem. E não adianta entrevistar conhecidos para se livrar rapidamente de uma tarefa que deveria ser um prazer na sua vida e não um estorvo. Você precisa de fontes de credibilidade para que seu texto seja lido. O que gera mais leitura? Uma matéria sobre doenças coronárias que traz aspas do cardiologista do posto de saúde da sua rua (por melhor que ele seja, e ele realmente pode ser ótimo, mas não é conhecido do grande público) ou do cardiologista-chefe de um hospital de renome como o Albert Einstein, Hospital das Clínicas ou Sírio Libanês?
A lei do mínimo esforço infelizmente prevalece. E é por isso que hoje vemos aos montes blogs de estudantes de Jornalismo que são meros achismos. Como é chato e desnecessário esse tipo de blog. Será mesmo que essas pessoas acham que já no primeiro, segundo ou terceiro ano de faculdade têm credibilidade suficiente para arrebatar leitores apenas com opinião (muitas vezes palpite de boteco)? E aí você tem que botar na cabeça dos caixas d´águas (alcunha “carinhosa” que costumo dar aos estudantes sem noção, que agem como se seus cérebros fossem uma gigante caixa da Brasilit): escuta, você ainda não é um Clóvis Rossi, um Jânio de Freitas, um Paulo Vinícius Coelho. Existe um caminho natural no jornalismo ou que pelo menos deveria existir: primeiro o cara rala muito fazendo reportagem pra depois ter respaldo para ser um articulista, um colunista. Tudo bem que o blog dá liberdade para textos opinativos e é importante sim que o aluno de jornalismo seja crítico, que tenha opinião. Mas não dá para se limitar a esse tipo de texto. Um estudante ainda tem uma imagem a ser construída, muita leitura pra fazer, muito conhecimento pra adquirir, antes de sair ditando como as coisas devem ser. Com certeza conseguiria muito mais visitantes para o blog,se investisse em entrevistas e pesquisa, produzindo reportagens capazes de furar a mídia tradicional. É dessa forma, aliás, que o jornalismo de blog tem se destacado.
E não adianta reclamar também do tempo para entrevistar. Você dá um mês para o cara fazer três, quatro entrevistas, e ele acha um absurdo. Meu, querido, na redação de um veículo hard news você vai fazer bem mais que três entrevistas numa manhã ou tarde! Mesmo em veículos que contam com deadlines mais amenos essa cobrança acontece. Quando era editora e repórter de duas revistas segmentadas, cheguei a entregar em uma semana uma reportagem que envolveu 14 entrevistados e muito pé na rua.
Tá mais do que na hora de quem não gosta de entrevista repensar a escolha do curso. O segredo do sucesso no jornalismo passa por: trabalho, trabalho, trabalho, tesão, tesão, tesão, humildade, humildade, humildade. Se você não sente prazer em entrevistar e não quer se esforçar, pois acha que já tem respaldo suficiente para escrever um texto sem apuração, não vai conseguir crescer na área. A não ser que seja pelo famoso QI (se algum doido resolver te indicar – eu nunca, pois tenho um nome a zelar) e, mesmo assim, se estiver em uma empresa jornalística séria, corre o risco de não durar muito tempo no cargo. O esforço de reportagem -número de entrevistas feitas, grau de dificuldade de contato com os entrevistados, credibilidade das fontes ouvidas, distância percorrida para fazer as entrevistas, pesquisa de campo, entre outras coisas – é cuidadosamente avaliado na banca de um Trabalho de Conclusão de Curso de jornalismo, momento-chave para dizer se o aluno está pronto ou não para ir para o mercado. Os professores-avaliadores levam em conta esses fatores exatamente porque sabem que, sem entrevista, não dá samba, não dá reportagem. E reportagem é a alma do jornalismo.
Então, #ficaadica. Pense bem se é mesmo jornalismo que você quer. Você é foca e não bicho-preguiça!
Imagem: Pixabay
A dificuldade para conseguir um estágio em jornalismo é uma reclamação recorrente que ouço dos alunos em sala de aula. Muitos estudantes colocam a culpa na exigência que o mercado faz de experiência na área (sendo que eles ainda estão na faculdade), no famoso QI (quem indica), entre outros fatores.
Não questiono a pertinência desses argumentos. É claro que eles contribuem para tornar mais difícil a disputa por uma vaga para praticar a profissão. Só que, na verdade, o que percebo é que esses não têm sido fatores decisivos para excluir um candidato de uma vaga. O desrespeito à nossa língua mãe, o português, é, muitas vezes, o verdadeiro vilão.
Falo não só como professora e jornalista, mas no papel de recrutadora, que já exerci em diversas ocasiões. O motivo para eu “deletar” logo de cara um candidato, antes mesmo de conhecê-lo, é encontrar no campo assunto do e-mail o título “Curriculo para o estagio”, sem acento nas palavras currículo e estágio; ou no corpo da mensagem ou do currículo encontrar algo como: “tenho esperiência em asseçoria de impressa”, em vez de tenho experiência em assessoria de imprensa. Esses não são exemplos inventados. São casos que tive o desprazer de presenciar…
Não sou especialista em Língua Portuguesa e confesso que ainda hoje tenho dificuldades com algumas questões da nossa gramática, mas uma coisa felizmente aprendi a ter: zelo, muuuuuito zelo com o português. Afinal, é a minha imagem que está por trás do que eu escrevo.
Isso quer dizer que, após fazer um texto, você deve revisar, revisar, revisar, revisar e revisar… quantas vezes puder! Consulte o dicionário, um professor, aquele seu amigo que escreve bem e domina a língua. E tem que ser aquele amigo crítico e sincero e não um que vai fingir que seu texto está maravilhoso para te agradar, sendo que ele traz um “derrepente” ou um “não tem nada haver”.
Jornalistas, mais do que qualquer outro profissional (à exceção dos professores de português, é claro), devem ter uma boa gramática e ortografia. Uma reportagem bem apurada, com diversas fontes e profunda pesquisa, pode perder toda sua credibilidade por conta de um erro ortográfico.
Você pode falar inglês, espanhol, francês, ter feito dezenas de cursos na área e assistido a várias palestras interessantes sobre jornalismo. Pode ser uma pessoa criativa, proativa, inteligente, com ótimo relacionamento interpessoal. Mesmo assim, se deslizar no português em um e-mail ao empregador, certamente não será chamado para uma entrevista.
Essa dica é válida, inclusive, para as redes sociais, territórios nos quais os queridos focas acham que “tudo é permitido”. Cuidado, muito cuidado. Aquele simples post sobre o Timão ou o São Paulo que traz a pérola “Seu time é bom, mais o meu é melhor” (emprego de “mais” em vez de “mas”) pode deixá-lo com um péssimo conceito. Diversas reportagens e profissionais da área têm destacado que hoje as empresas utilizam o perfil do candidato no Twitter e/ou no Facebook como um dos fatores influenciadores na contratação. Portanto, isso não é exagero como muitos costumam pensar.
Se há a crítica dos alunos com relação à dificuldade para estagiar, há na mesma proporção o lamento de colegas jornalistas, que afirmam ser complicado selecionar um estagiário que tenha um texto bom, sem erros de português. No livro Mestres da Reportagem (produzido pelos meus alunos da FAPSP – Faculdade do Povo) muitos repórteres apontam o respeito à língua como um dos pré-requisitos essenciais de quem pretende ser um bom jornalista.
Portanto, não tenha preguiça de consultar a grafia correta de uma palavra e revisar os seus textos. A começar daqueles que você entrega para os seus professores no curso de Jornalismo. Lembre-se de que seus mestres serão os primeiros “recrutadores”, te recomendando ou não para vagas das quais eles têm conhecimento. Eles certamente não vão recomendar um aluno que tenha problemas com o português, pois é o nome deles (um nome que eles construíram durante muitos anos) que estará em jogo.
Eu costumo brincar com meus alunos: “Sejam neuróticos com o português!”. O mesmo vale para você que em breve ingressará na profissão. Baixe um corretor ortográfico e uma minigramática no celular, ande com um dicionário (que já esteja em conformidade com o novo acordo ortográfico) na bolsa. Se necessário, faça aulas particulares com uma boa professora de Língua Portuguesa, para combater seus pontos fracos. Seja humilde em admitir que nossa língua é complexa e precisa ser tratada com seriedade. Uma boa dose de neurose lhe fará muito bem. Pode ter certeza!